Caseriando
(Ênio Medeiros)
A noite
turva era um breu
A lua estava
em férias no infinito
Somente
sobre os tentos de um catre vazio
Dava corda
no relógio um grilito
Uma coruja
chia espantando os cavalos
A cachorrada
uiva quebrando o silêncio
Uma pulga
chega pedindo pousada
Acampada nos
pelegos do Terêncio
Sou caseiro,
casereando, eu casereiro
Nos ranchos,
nas fazendas e onde ande
Sou feliz
por ter nascido aqui no sul
E fazer
parte deste querido Rio Grande
Me reviro,
perco sono e vou pensando
Em tesouros,
causos de assombração
Um galo
canta, se dormiu, não sei se ouviu
O pingo baio
relinchando no galpão
Vou tirar
leite a vaca estranha e senta as pata
Galinha,
porco, reclamando seu quinhão
Pego o
sogueiro, dou um jeito na recolhida
Nem tive
tempo de tomar meu chimarrão
Conto nos
dedos quantos dias ainda faltam
Pra sair do
compromisso e da rotina
Comer comida
feita por mão de mulher
E ir ao povo
se encontrar com alguma china
Tomar um
trago, parceiro do índio vago
Dar uma
bailada nas bailantas da costeira
Contar ao
patrão que aqui está tudo bem
Se for
preciso eu casereio a vida inteira